Em respeito ao Manual de Redação da Folha, fomos a um evento organizado pelos donos dos meios de comunicação e ouvimos meio que na marra o cabeça da redação da Folha, o editor-executivo Sérgio Dávila, que na hierarquia do jornal está abaixo apenas de Otavinho:
Ponderei muito se deveria divulgar esse vídeo. Decidi ir ao tal evento em cima da hora, e me irritei ao ver aquele monte de banners de “liberdade” no convescote patronal enquanto assistia Sérgio Dávila e o über-reaça Demétrio Magnoli falando um monte de besteiras considerações no palco –acredite, foi preciso estômago forte. Ao final ainda ouvi o chefão do jornal que me censura dar entrevistas a rádios e TVs como porta-voz da liberdade de imprensa irrestrita, dizendo-se preocupado com as “ameaças” de cerceamento, principalmente do governo. Foi a gota d´água. A revolta com aquele teatro falou mais alto, me enfiei na rodinha de jornalistas e o resultado foi esse que você viu.
Pesava contra a divulgação: estou um tanto nervoso e atrapalhado no vídeo (eu falava e filmava o número 1 do maior jornal do país). Fiquei também com medo de parecer grosso ou de sofrer alguma retaliação por me expor demais. A favor da divulgação pesou o fato de que finalmente o “outro lado” ganha rosto e voz. Um peixe grande do jornal defende de peito aberto o que a advogada Tais Gasparian escreveu, uma peça jurídica inédita no Brasil e que, essa sim, é considerada pela comunidade blogueira uma real ameaça à liberdade de expressão na Internet, pelo precedente horroroso que abre.
Melhor (pior?): contrastando com minha tensão, o executivo fala impassível, sem abalar o sorrisinho, bem em frente a um enorme banner escrito “liberdade de expressão”. Também pesou a favor da divulgação o fato de Sérgio ter levado pro lado pessoal. Ele fez questão de citar que eu trabalhei no Grupo Folha, que depois fui pra Prefeitura (fiz análise de mídia para o governo Marta Suplicy), que “conheço o jornal”, que estou pessoalmente “capitalizando” com o caso etc. Se fosse pra ir por aí, também conheço Sérgio e pessoas de sua família há quase duas décadas, sei onde trabalharam e o que fizeram da vida. Mas que catzo isso tem a ver com a censura e o processo da Folha?
Por fim, uma breve tréplica ao Outro Lado concedido à Folha:
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É censura SIM. E violenta. O endereço foi cassado pela Justiça a pedido da Folha e agora vocês querem dinheiro. Não dá pra dourar a pílula, lamento;
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O que foi essa comparação com a Ford?? Os automóveis da nobre montadora norte-americana não vêm com discursos defendendo a liberdade de expressão gravados no capô. A Folha, sim;
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Uma pessoa inteligente como o editor não pode mesmo acreditar que nosso site causava “confusão”; (Obs.: e o legal é que várias pessoas que trabalham no mesmo andar do Sérgio concordam com a Falha, e não com a Folha. Só não podem dizer publicamente);
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Defender sorrindo que dois caras sem ligação com nenhuma entidade tem mesmo que ser punidos e pagar uma bolada em dinheiro para o maior jornal do país a título de “indenização por danos morais” porque fizeram um blog de paródia é o fim;
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Se “capitalizar” é dar publicidade para o caso, sim estamos fazendo isso. É o que resta para nos defender da bucha da Folha.
Por fim, caro Sérgio, por favor não me leve a mal. Não tenho nada contra sua pessoa. Mesmo. Colecionei e mandei encadernar (juro) a sensacional cobertura que você fez da Guerra do Iraque, quando ainda era apenas um ótimo repórter, e não um executivo engravatadoE olha só: até postei, há um mês, um vídeo de outra pessoa que pensa exatamente como você. Mas minha posição é simples: tenho asco da postura hipócrita da Folha, que se diz o “Jornal do Futuro” mas se vale das piores práticas do passado.
Muito obrigado, bom fechamento e lembranças ao Otavinho.
Lino Bocchini